segunda-feira, 7 de julho de 2008

Nós somos a biosfera


PENSE NISSO | Artigo
Nós somos a biosfera
Tratar os humanos como passageiros da sociedade ou inquilinos do ambiente impede que o aluno entenda o lugar em que vive

Em decorrência da degradação do meio ambiente e do aumento da marginalidade, os problemas ambientais e sociais têm ganhado espaço nos conteúdos escolares. Sendo tão difíceis de compreender, essas questões são ainda mais difíceis de ensinar. Quem pensa ser coisa fácil acaba reproduzindo o senso comum. Escolas e professores mais atentos se perguntam como trabalhar melhor esses temas ou se deveriam ensinar o que mal compreendem. Vou tentar avançar na discussão, que é uma viagem.
Emilia Brandão

“Não se resolvem na escola todos os problemas do mundo, mas sem ela não resolveremos nenhum”

O homem surgiu e evoluiu ao transformar o ambiente, cultivar plantas, criar animais, inventar ferramentas, minerar o subsolo e, na vida em sociedade, ao desenvolver as artes e a escrita.
Há milênios já era um ser de cultura e, há séculos, também de cultura científica e tecnológica com a qual interpreta a natureza, produz, se comunica, cura e também mata. Esse animal social, que já não vive de caça e de frutas silvestres, depende da cultura e das técnicas, da escrita e dos cálculos, de valores e de leis e, por isso, também depende da escola. A pergunta é: por que e como a escola deve tratar questões sociais e ambientais?

A aventura humana, revista acima num parágrafo, mostra que somos sociedade, e não apenas moramos nela – como as células não “moram” em nosso corpo, mas o integram. Nosso corpo social tem o sentido que lhe dermos e, sem desenvolver essa consciência com crianças e adolescentes, não se garante rumo para a coletividade. Notícias sobre indicadores econômicos apresentadas no jornal da noite são parte de nossa vida tanto quanto o cortiço vizinho. Uma escola consciente disso pode propor que se discuta a relação entre renda familiar, nível de emprego e violência urbana. Cabe ao professor, entre outras possibilidades, desafiar os estudantes a fazer projeções sobre que profissões e ocupações terão maior demanda quando eles forem adultos.

Junto com as questões sociais vêm as ambientais. Para compreender a vida como social e planetária é necessário perceber-se como um animal entre outros e comparar, por exemplo, a atividade agropecuária à de formigas que criam fungos com folhas que recolhem. É também relacionar as condições de saúde da população ao saneamento básico. Tratar do desenvolvimento socioambiental sustentável em um contexto é associar a monocultura à destruição de ecossistemas, revelando, por exemplo, porque países como o Brasil – exportadores de minérios e grãos – arcam com maior prejuízo ambiental.

Isso é tema para diversas disciplinas – Ciências, Arte, História, Língua Portuguesa e Geografia –, em que se podem abordar questões próximas, como a do rio que virou esgoto ou da criança que se tornou traficante, e discutir os projetos de vida dos alunos, mostrando a relação deles com o ambiente e a comunidade de que fazem parte. Não se resolvem na escola todos os problemas do mundo, mas sem ela não resolveremos nenhum. Não basta falar de responsabilidade ambiental e solidariedade se ignoramos que somos biosfera e somos seres sociais, não meros “moradores” da biosfera e da sociedade, a começar pelo convívio em nosso bairro.
Luis Carlos de Menezes
Físico e educador da Universidade de São Paulo, pensa que a consciência social e a ambiental são inseparáveis e que ambas se formam na escola.
Disponível em:
http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0213/aberto/mt_281583.shtml

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