Encravada na pequena cidade de Macaíba, no Rio Grande do Norte, (região metropolitana de Natal), está um ousado projeto do pesquisador brasileiro Miguel Nicolelis, considerado um dos dez maiores neurocientistas do mundo.
É na cidade de 62 mil habitantes que está um complexo de 100 hectares onde serão erguidos 25 laboratórios voltados para o estudo da neurociência. O complexo laboratorial bvai dar suporte ao Instituto de Neurociência de Natal, que já começou a funcionar.
"Quero demonstrar com esse experimento de empreendedorismo científico que o Nordeste brasileiro é o futuro do Brasil em termos de desenvolvimento econômico de alto valor agregado e em termos de recursos humanos e desenvolvimento, capacitação de recursos humanos", destaca Nicolelis.
Empolgado com o projeto ele vai além. "Eu quero transformar o Rio Grande do Norte na capital da Califórnia brasileira".
O projeto completo do instituto ainda não foi executado. Mas as primeiras ações foram iniciadas. Em Natal foi criado a Escola Estadual Alfredo Monteverde, onde 600 crianças estão participando de um curso de iniciação científica. Na cidade de Macaíba são atendidas outras 200 crianças e até o final do ano serão esse npumero deve dobrar.
"Queremos incutir na cabeça das crianças, que serão herdeiras da região e do Brasil, que cada uma delas é um agente de transformação. Cada uma delas pode participar dessa transformação econômica, social e educacional. O maior investimento de todos que um país pode fazer é em gente. O que precisamos fazer é uma revolução educacional no Nordeste brasileiro e no Brasil também", avalia.
Em Macaíba, além do centro de iniciação científica, que está em operação, outros dois devem ser construídos: um voltado à pesquisa científica e um focado na saúde, principalmente sobre a gravidez de alto risco.
Nesse último, o projeto é atender a gestante e manter o cuidado até os primeiros anos de vida da criança.
"Precisamos aportar a criança com todas as condições de saúde no começo da vida e propiciar um ambiente de amor, carinho, estimulação sensorial. O cérebro é uma esponja, nos primeiros anos de vida o cérebro adquire conhecimento em velocidade assustadora e é ali onde nossas potencialidades são definidas", analisa.
O projeto desse centro de saúde vai além de uma maternidade para gravidez de alto risco. Nicolelis explica que o objetivo é encaminhar a criança nos primeiros meses para escola. "A escola que iremos criar no campus de Macaíba será a primeira escola do Brasil que a criança nascerá na nossa maternidade e imediatamente ao nascer ela já estará aceita na nossa escola, junto com sua mãe. A escola vai nascer dentro da maternidade e terá como primeira professora a própria mãe. Por sua vez a mãe será aluna dessa escola também", comenta o cientista.
Projetos em andamento
A previsão é que o projeto final do Instituto de Neurociência de Natal, com os 25 laboratórios, esteja concluído em dois anos, mas as atividades científicas já foram iniciadas em quatro linhas de pesquisa. Um grupo de pesquisadores está estudando a biocompatibilidade de eletrodos, que analisa o uso de prótese neural como forma terapêutica.
Com esse estudo poderá surgir uma prótese que terá os seus movimentos comandados pelo cérebro, através dos eletrodos. Os primeiros experimentos estão sendo feitos com ratos. "Esse é um experimento para colocar os eletrodos que comandarão as próteses, como movimentos robóticos. O cuidado é para que esses eletrodos não provoquem uma reação inflamatória", observa o pesquisador Sidarta Ribeiro, coordenador do Instituto de Neurociência de Natal.
Outra linha de pesquisa está relacionada ao sono, sonho e aprendizagem. O trabalho da base é tentar identificar se as pessoas que tem um bom sono demonstram facilidade no aprendizado.
O Instituto de Neurociência de Natal já começou também a estudar a comunicação vocal em primatas. As pesquisas com os cérebros dos sagüis procura entender que tipo de linguagem os sagüis transmitem.
Outra linha que está sendo desenvolvida no Instituto é o mecanismo do Mal de Parkinson, com o foco em descobrir o que leva a essa doença. As pesquisas estão sendo feitas inicialmente em camundongos. "Queremos compreender verdadeiramente essa doença e a origem dela", destaca Ribeiro.
E para começar a entrar em outras linhas de pesquisa o Instituto abriu vagas para outros 12 pesquisadores independentes. "Com esses 12 novos pesquisadores em dois anos estaremos com nosso projeto inicial concluído que é criar 25 laboratórios de pesquisa", destaca Sidarta Ribeiro, coordenador da instituição.
Toda estrutura do Instituto na cidade de Macaíba, incluindo o centro de saúde, as escolas de iniciação científica e os laboratórios, estarão instalados em uma área de 100 hectares, doada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. "Em Macaíba vamos edificar o campus do cérebro e com um projeto científico educacional que não existe igual no Brasil", completa Miguel Nicolelis.
Redação Terra:
http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI1994590-EI8148,00.html
Em: 23 de outubro de 2007.