segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O apanhador de desperdícios


Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água, pedra, sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos,
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Manoel de Barros
Mais sobre Manoel de Barros em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manoel_de_Barros

SAIBA TUDO SOBRE O ENEM 2009

1. Qual a principal diferença entre o Enem tradicional e o novo Enem?

Até 2008, o Enem era uma prova clássica com 63 questões interdisciplinares, sem articulação direta com os conteúdos ministrados no ensino médio, e sem a possibilidade de comparação das notas de um ano para outro. A proposta é reformular o Enem para que o exame possa ser comparável no tempo e aborde diretamente o currículo do ensino médio. O objetivo é aplicar quatro grupos de provas diferentes em cada processo seletivo, além de redação. O novo exame será composto por perguntas objetivas em quatro áreas do conhecimento: linguagens, códigos e suas tecnologias (incluindo redação); ciências humanas e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias e matemáticas e suas tecnologias. Cada grupo de testes será composto por 45 itens de múltipla escolha, aplicados em dois dias.

2. Por que mudar o Enem?

A grande vantagem que o MEC está buscando com o novo Enem é a reformulação do currículo do ensino médio. O vestibular nos moldes de hoje produz efeitos insalubres sobre o currículo do ensino médio, que está cada vez mais voltado para o acúmulo excessivo de conteúdos. A proposta é sinalizar para o ensino médio outro tipo de formação, mais voltada para a solução de problemas. Outra vantagem de um exame unificado é promover a mobilidade dos alunos pelo País. Centralizar os exames seletivos é mais uma forma de democratizar o acesso a todas as universidades.

3. Por que fazer o Enem 2009?

A média de desempenho obtida no Enem será imprescindível para pleitear uma vaga nas instituições de ensino superior que adotarem o exame como ferramenta de seleção, de maneira integral ou parcial. Além disso, o Enem continua a servir como referência para uma auto-avaliação sobre o ensino médio e qualidade do ensino, e sua nota continuará a ser critério de seleção de bolsas de estudo no Programa Universidade para Todos (ProUni). O Enem 2009 vai ainda promover a certificação de jovens e adultos no ensino médio e, a partir do ano que vem, vai medir o desempenho acadêmico dos estudantes ingressantes nas instituições de ensino superior.
Visite o site abaixo. Nele você encontrará explicação de mais de 20 questões sobre o Novo Enem:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=/index.php?option=com_content&view=article&id=13427

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Janela da Alma


Janela da Alma
Sinopse

Dezenove pessoas com diferentes graus de deficiência visual, da miopia discreta à cegueira total, falam como se vêem, como vêem os outros e como percebem o mundo. O escritor e prêmio Nobel José Saramago, o músico Hermeto Paschoal, o cineasta Wim Wenders, o fotógrafo cego franco-esloveno Evgen Bavcar, o neurologista Oliver Sacks, a atriz Marieta Severo, o vereador cego Arnaldo Godoy, entre outros, fazem revelações pessoais e inesperadas sobre vários aspectos relativos à visão: o funcionamento fisiológico do olho, o uso de óculos e suas implicações sobre a personalidade, o significado de ver ou não ver em um mundo saturado de imagens e também a importância das emoções como elemento transformador da realidade ­ se é que ela é a mesma para todos.

O Curioso Caso de Benjamin Button


Um bebê nasce com a aparência e doenças de uma pessoa em torno dos 80 anos. À medida que envelhece em idade, seu corpo rejuvenesce. Dirigido por David Fincher (Zodíaco) e com Brad Pitt, Cate Blanchett, Julia Ormond, Tilda Swinton e Elias Koteas no elenco. Vencedor de 3 Oscars.

Ficha Técnica
Título Original: The Curious Case of Benjamin Button
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 166 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2008
Site Oficial: www.benjaminbutton.com.br

Curiosidades
- O conto de F. Scott Fitzgerald, no qual O Curioso Caso de Benjamin Button foi baseado, foi inspirado na famosa frase de Mark Twain: "A vida seria infinitamente mais feliz se pudéssemos nascer aos 80 anos e gradualmente chegar aos 18".

- Na década de 90 Steven Spielberg esteve cotado para dirigir este filme, com Tom Cruise como protagonista.

- Em 1998 Ron Howard esteve cotado para dirigir o filme, com John Travolta sendo o protagonista.

- Spike Jonze esteve cotado para dirigir o filme.

- Rachel Weisz foi sondada para interpretar Daisy, mas não pôde aceitar o papel devido a conflitos de agenda com outros filmes em que estava comprometida.

- Este é o 2º filme em que Brad Pitt e Cate Blanchett atuam juntos. O anterior foi Babel (2006).

- Brad Pitt precisava de 5 horas diárias para concluir a maquiagem necessária para Benjamin Button

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Dia do estudante: as conquistas que ainda estão por vir

Por Augusto Chagas, Presidente da UNE

O dia 11 de agosto é lembrado por vários acontecimentos no movimento estudantil. O primeiro deles é o que marca o início da universidade brasileira, em 1827, quando foram inaugurados os primeiros cursos jurídicos do país. Um em São Paulo e outro em Olinda (PE). Mas, nos dias atuais é impensável um movimento tão elitista como o daquele período. Ou até mesmo um movimento como o da época do reconhecimento oficial da data como Dia Nacional do Estudante, em 1927. Ou o do ano em que surgiu a primeira proposta de criação de uma entidade que representasse os estudantes.

A primeira data de criação da União Nacional dos Estudantes (UNE) é 11 de agosto de 1937, com a instalação do I Conselho Nacional dos Estudantes, na Casa do Estudante do Brasil, dirigida pela feminista e poeta Ana Amélia Queiroz Carneiro de Mendonça. A entidade tinha um caráter meramente filantrópico e, portanto, não havia um papel político ou corporativo ainda.

Foi somente no ano seguinte, em 22 de dezembro de 1938, que surge o esboço da entidade que conhecemos nos dias atuais. Foi nesse ano que acontece o II Conselho dos Estudantes que é reconhecido por uma grande parte do movimento estudantil como o início do processo de organização política dos jovens.
Embora os estudantes tivessem ousando mais, evidenciando suas posições políticas, ainda tratava-se de um movimento elitista por conta das características do universitário naquela época. Normalmente era homem, branco, filho de família rica, sem necessidade de trabalhar, solteiro - "bom partido" para casar.

Um perfil bem diferente do que se tem atualmente: homens e mulheres, brancos, negros e até indígenas, muitos são filhos de trabalhadores que mal conseguiram terminar o Ensino Médio. Alguns deles são casados, já têm filhos ou acabam tornando-se arrimo de família. Uma pesquisa recente realizada pelo IBOPE, encomendada pelo MEC, com 1,2 mil recém-formados pelo Programa Universidade para Todos (PROUNI) de diversas regiões do Brasil, um jovem, com as características sociais exigidas pelo programa, ao obter um diploma universitário muda a vida de sua família para melhor. Cerca de 80% dos que obtiveram bolsas integrais estão empregados e a renda da família aumentou para 68% dos entrevistados. Oito em cada dez bolsistas ouvidos afirmaram que membros da família foram motivados a iniciar ou prosseguir os estudos. Por conta das responsabilidades que esse novo universitário carrega, não dispõe de tempo para frequentar manifestações por mais qualidade na educação, por um país mais justo ou para derrubar um Presidente da República, como foi o Foral Collor, que levou às ruas, no dia 11 de agosto de 1992, 15 mil jovens.

Mas isso não afasta o jovem do movimento estudantil e da organização política de seu país. Pelo contrário. Tem sido cada vez maior a participação de jovens brasileiros nos congressos da entidade. O mais atual, 51º CONUNE, ocorrido entre 15 e 19 de julho deste ano, reuniu cerca de 10 mil estudantes de todas as regiões do país. Além disso, as novas tecnologias da informação possibilitam pequenas revoluções, como as organizadas com a ajuda da rede mundial de computadores. A Internet tornou-se tão importante para o movimento estudantil assim como a panfletagem foi nas décadas anteriores. E ainda é.

Contudo, apesar da conquista da expansão do Ensino Superior nos últimos anos – com mais vagas e mais instituições de ensino país afora por conta do Reuni, e a abertura da universidade a jovens de baixa renda com o PROUNI – ainda estamos longe da democratização das salas das universidades brasileiras. Apenas 12% dos jovens entre 18 e 24 anos ingressam no Ensino Superior.

Porém, a rede estudantil vem se ampliando década após década. Atualmente, é formada por uma entidade nacional sólida e representativa, que congrega uma dezena de Uniões Estaduais de Estudantes (UEE’s), 450 Diretórios Centrais dos Estudantes (DCE’s), cinco mil Centros Acadêmicos (CA’s), Além disso, a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) é uma entidade parceira, que reúne centenas de entidades municipais. No último Conselho Nacional de Entidades Gerais (CONEG) da UBES, há um ano, foram credenciadas 973 entidades. Destas, pelo menos 500 estão articuladas na rede, que já revelou grandes nomes da política nacional como Aldo Rebelo, Pedro Simon, Juca Ferreira, Lindbergue Farias, José Dirceu, Orlando Silva, José Serra, entre outros. Vale registrar também os esforços pela diversificação da atuação estudantil na área da cultura como a criação dos Circuitos Universitários de Cultura e Arte (CUCA's), a Bienal de Arte e Cultura da UNE. Além disso, estamos nos mobilizando nas diversas frentes sociais como movimento de trabalhadores, mulheres, negros e gays e nas instâncias governamentais como os Conselhos Nacionais de Juventude, Saúde e outros.

Felizmente, a grande bandeira do movimento estudantil, a Reforma Universitária, foi transformada recentemente em projeto de lei na Câmara. O texto atual começou a ser construído com dezenas de DCE’s de instituições de todas as regiões do país. Depois, foi apresentado e discutido com estudantes das redes pública e privada. Muitas sugestões foram acrescentadas e uma nova redação foi preparada. A proposta final foi votada durante o 12º Conselho Nacional de Entidades de Base (CONEB), em janeiro deste ano, em Salvador (BA).

Agora, a luta é para que o PL entre na pauta de votação do Congresso Nacional. É preciso pressionar o poder público para alcançarmos os 13 pontos defendidos pelos estudantes no projeto. Está aí uma data que precisa entrar para a história do movimento estudantil. Só a reforma tornará possível o sonho da radicalização da democracia e a popularização nas universidades brasileiras. Saudações estudantis a todas e todos estudantes do Brasil!

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TÍTULO DO FILME: ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO
DIREÇÃO: Peter Cohen
NARRAÇÃO: Bruno Ganz
Suécia 1992 - 121 minutos
O professor de história Renan Garcia Miranda, do Anglo, explica que é possível aproveitar filmes e documentários na hora dos estudos, pois contextualiza os temas solicitados no Enem e evita o decoreba.

RESUMO

Este filme é considerado um dos melhores estudos sobre o Nazismo. Lembra que chamar Hitler de artista medíocre não elimina os estragos causados por sua estratégia de conquista universal. O arquiteto da destruição tinha grandes pretensões e queria dar uma dimensão absoluta à sua megalomania. O nazismo tinha como princípio fundamental embelezar o mundo, nem que para isso tivesse que destruí-lo.

Esse documentário traça a trajetória de Hitler e de alguns de seus mais próximos colaboradores, com a arte. Muito antes de chegar ao poder, o líder nazista sonhou em tornar-se artista, tendo produzido várias gravuras, que posteriormente foram utilizadas como modelo em obras arquitetônicas.
Destaca ainda a importância da arte na propaganda, que por sua vez teve papel fundamental no desenvolvimento do nazismo em toda a Alemanha.
Numa época de grave crise, no período entre guerras, a arte moderna foi apresentada como degenerada, relacionada ao bolchevismo e aos judeus. Para os nazistas, as obras modernas distorciam o valor humano e na verdade representavam as deformações genéticas existentes na sociedade; em oposição defende o ideal de beleza como sinônimo de saúde e consequentemente com a eliminação de todas as doenças que pudessem deformar o "corpo" do povo.
Nasce assim uma "medicina nazista" que valoriza o corpo, o belo e estará disposta a erradicar os males que possam afetar essa obra.

Do ponto de vista social, o embelezamento é vinculado diretamente à limpeza. A limpeza do local de trabalho e a limpeza do próprio trabalhador. Os nazistas consideram que ao garantir ao trabalhador a saúde e a limpeza, libertam-no de sua condição proletária e, garantem-lhe dignidade de burguês, eliminando portanto a luta de classes.
A Guerra é vista como uma arte. Com cenas de época, oficiais, mostra-nos a visita de Hitler à Paris logo após a ocupação: O Fuher chega de avião durante a madrugada, visita a Ópera, o Arco do Triunfo, alguns prédios imponentes. Volta para a Alemanha no mesmo dia.
O domínio sobre a França, Bélgica, Holanda possibilitaram aos nazistas a pilhagem de obras de arte. Em 1941 a conquista da Grécia; nova viagem de Hitler, que tinha na beleza da antigüidade um de seus modelos.

O filme dedica ainda um bom tempo à perseguição e eliminação dos judeus como parte do processo de purificação, não só da raça, mas de toda a cultura, mostrando o processo de extermínio. É interessante perceber que, durante toda a guerra, mesmo no período final com a proximidade da derrota, os projetos arquitetônicos do III Reich tiveram andamento, pretendendo construir a nova Berlim, capital do mundo.

sábado, 8 de agosto de 2009

“Falta ao Brasil se conectar mais globalmente”


Médico diz que burocracia brasileira é incompatível com a dinâmica de pesquisas científicasO neurocientista Miguel Nicolelis é um idealista partidário de filosofia pragmática pouco cultivada entre as cabeças iluminadas do Brasil. Seu trabalho só terá sentido se tiver um efeito multiplicador capaz de mudar a realidade das camadas sociais mais abandonadas do país. Conheça um pouco mais o médico na entrevista a seguir:

Qual a influência de seu pai um juiz de direito e sua mãe, escritora, sobre sua filosofia de trabalho?
Nicolelis: Essa combinação foi importante para formar o tipo de atitude que desenvolvi para fazer pesquisa. O trabalho de minha mãe e minha avó, que também era uma intelectual, influenciou muito, especialmente na visão de como criar esses projetos sociais. Ser filho de alguém que escreve para crianças há mais de 40 anos ajuda porque você tem um exemplo de como se estabelece um diálogo de igual para igual com uma criança. A idéia básica é dar liberdade para ela adquirir, por si só, a formação intelectual, criando condições para que se sinta feliz e tenha prazer em ler, em vasculhar ou perguntar. É importante que as pessoas que lidam com crianças dêem a elas a segurança de que podem inquirir e que sejam nutridas com esse aconchego intelectual. Temos de incorporar isso no sistema educacional brasileiro.

Por que o senhor foi continuar seus estudos nos Estados Unidos?
Era um caminho natural fazer pós-doutorado no exterior. Eu já era professor da universidade naquela época, mas queria aprender e desenvolver certas coisas que não existiam no Brasil. O ambiente para fazer pesquisa na faculdade de medicina estava muito difícil e o cenário americano proporcionava a oportunidade de desenvolver projetos que ainda não tinham sido realizados nem nos Estados Unidos.

Quando escolheu a neurociência como especialidade já vislumbrava a importância que ela iria ter no século 21?
Nunca imaginei que a área de interface cérebro-máquina fosse decolar de maneira tão grande. Ela se transformou numa das áreas de maior evidência da neurociência.

Por que a cidade de Natal foi escolhida para sediar o Instituto de Neurociência?
Por uma série de critérios que visavam descentralizar a produção de conhecimento do sudeste para o norte e nordeste brasileiro, criando uma nova cultura que permita incorporar essas regiões na comunidade científica. Procurávamos uma capital de médio porte, com a infra-estrutura mínima necessária para o projeto. Era importante que a cidade não fosse muito grande, pois queríamos que o trabalho social tivesse impacto significativo na comunidade. Essa proposta tem ajudado a disseminar o nome da neurociência brasileira pelo mundo. As pessoas ficam maravilhadas ao saber que o Brasil está investindo num projeto dessa magnitude que não existe em lugar nenhum do mundo.

Quais são os maiores desafios ao desenvolvimento da neurociência no país?
A identificação de talentos e a possibilidade de ter fontes de financiamento sustentáveis. Falta ao Brasil se conectar mais globalmente, ter mecanismos dinâmicos de interação para que os pesquisadores tenham capacidade de reagir melhor aos acontecimentos em outras partes do planeta. Ainda hoje temos dificuldades, por exemplo, para importar equipamentos e material de trabalho. Tivemos um processo longo e difícil, com empecilhos burocráticos tremendos para trazer equipamentos ao Brasil. Melhorou muito, mas ainda há uma burocracia enorme.

É importante ao Brasil trazer de volta jovens cientistas que estudam no exterior?
Parte da missão do IINN é essa, repatriar talentos que precisam de um local que os acolha. É importante que o Brasil continue mandando pesquisadores ao exterior para treinamento; alguns ficarão, é inevitável. Mas isso também ajuda ao país, porque alguns que ficam no exterior mostram para o mundo que o Brasil é capaz de formar pessoas competentes. Além disso, é importante manter o intercâmbio com os melhores laboratórios do mundo.

O senhor tem uma visão globalizada da ciência. Qual a sua opinião em torno da legislação brasileira sobre pesquisa, a lei de biossegurança e especialmente a discussão atual em relação à utilização de células-tronco?
Conheço pouco a lei de biossegurança. Quanto à utilização de células-tronco acredito que algumas pessoas adoram amplificar certas querelas. É esse o caso quando se fala de um grupo de células que ainda não tem identidade consciente e que de forma alguma pode ser reconhecido como um ser humano pensante, e cujo subproduto celular poderá salvar milhões de vidas no futuro. Para mim não existe nenhuma querela ética aí. De um dia para outro, muita gente virou cientista de células-tronco. Há um monte de pessoas criticando a pesquisa sem saber como ela é feita.
Disponível em: http://www.cremesp.com.br/?siteAcao=Revista&id=320

RN ganha pólo inédito de pesquisa


Encravada na pequena cidade de Macaíba, no Rio Grande do Norte, (região metropolitana de Natal), está um ousado projeto do pesquisador brasileiro Miguel Nicolelis, considerado um dos dez maiores neurocientistas do mundo.
É na cidade de 62 mil habitantes que está um complexo de 100 hectares onde serão erguidos 25 laboratórios voltados para o estudo da neurociência. O complexo laboratorial bvai dar suporte ao Instituto de Neurociência de Natal, que já começou a funcionar.

"Quero demonstrar com esse experimento de empreendedorismo científico que o Nordeste brasileiro é o futuro do Brasil em termos de desenvolvimento econômico de alto valor agregado e em termos de recursos humanos e desenvolvimento, capacitação de recursos humanos", destaca Nicolelis.

Empolgado com o projeto ele vai além. "Eu quero transformar o Rio Grande do Norte na capital da Califórnia brasileira".

O projeto completo do instituto ainda não foi executado. Mas as primeiras ações foram iniciadas. Em Natal foi criado a Escola Estadual Alfredo Monteverde, onde 600 crianças estão participando de um curso de iniciação científica. Na cidade de Macaíba são atendidas outras 200 crianças e até o final do ano serão esse npumero deve dobrar.

"Queremos incutir na cabeça das crianças, que serão herdeiras da região e do Brasil, que cada uma delas é um agente de transformação. Cada uma delas pode participar dessa transformação econômica, social e educacional. O maior investimento de todos que um país pode fazer é em gente. O que precisamos fazer é uma revolução educacional no Nordeste brasileiro e no Brasil também", avalia.

Em Macaíba, além do centro de iniciação científica, que está em operação, outros dois devem ser construídos: um voltado à pesquisa científica e um focado na saúde, principalmente sobre a gravidez de alto risco.

Nesse último, o projeto é atender a gestante e manter o cuidado até os primeiros anos de vida da criança.

"Precisamos aportar a criança com todas as condições de saúde no começo da vida e propiciar um ambiente de amor, carinho, estimulação sensorial. O cérebro é uma esponja, nos primeiros anos de vida o cérebro adquire conhecimento em velocidade assustadora e é ali onde nossas potencialidades são definidas", analisa.

O projeto desse centro de saúde vai além de uma maternidade para gravidez de alto risco. Nicolelis explica que o objetivo é encaminhar a criança nos primeiros meses para escola. "A escola que iremos criar no campus de Macaíba será a primeira escola do Brasil que a criança nascerá na nossa maternidade e imediatamente ao nascer ela já estará aceita na nossa escola, junto com sua mãe. A escola vai nascer dentro da maternidade e terá como primeira professora a própria mãe. Por sua vez a mãe será aluna dessa escola também", comenta o cientista.
Projetos em andamento
A previsão é que o projeto final do Instituto de Neurociência de Natal, com os 25 laboratórios, esteja concluído em dois anos, mas as atividades científicas já foram iniciadas em quatro linhas de pesquisa. Um grupo de pesquisadores está estudando a biocompatibilidade de eletrodos, que analisa o uso de prótese neural como forma terapêutica.
Com esse estudo poderá surgir uma prótese que terá os seus movimentos comandados pelo cérebro, através dos eletrodos. Os primeiros experimentos estão sendo feitos com ratos. "Esse é um experimento para colocar os eletrodos que comandarão as próteses, como movimentos robóticos. O cuidado é para que esses eletrodos não provoquem uma reação inflamatória", observa o pesquisador Sidarta Ribeiro, coordenador do Instituto de Neurociência de Natal.
Outra linha de pesquisa está relacionada ao sono, sonho e aprendizagem. O trabalho da base é tentar identificar se as pessoas que tem um bom sono demonstram facilidade no aprendizado.
O Instituto de Neurociência de Natal já começou também a estudar a comunicação vocal em primatas. As pesquisas com os cérebros dos sagüis procura entender que tipo de linguagem os sagüis transmitem.

Outra linha que está sendo desenvolvida no Instituto é o mecanismo do Mal de Parkinson, com o foco em descobrir o que leva a essa doença. As pesquisas estão sendo feitas inicialmente em camundongos. "Queremos compreender verdadeiramente essa doença e a origem dela", destaca Ribeiro.

E para começar a entrar em outras linhas de pesquisa o Instituto abriu vagas para outros 12 pesquisadores independentes. "Com esses 12 novos pesquisadores em dois anos estaremos com nosso projeto inicial concluído que é criar 25 laboratórios de pesquisa", destaca Sidarta Ribeiro, coordenador da instituição.
Toda estrutura do Instituto na cidade de Macaíba, incluindo o centro de saúde, as escolas de iniciação científica e os laboratórios, estarão instalados em uma área de 100 hectares, doada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. "Em Macaíba vamos edificar o campus do cérebro e com um projeto científico educacional que não existe igual no Brasil", completa Miguel Nicolelis.
Redação Terra:
http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI1994590-EI8148,00.html
Em: 23 de outubro de 2007.

Fábrica de mentes brilhantes


Macaíba é um dos municípios que compõem a região metropolitana da Grande Natal. Tem população aproximada de 65 mil habitantes e área aproximada de 500 km2; Macaíba não tem litoral.
A ligação entre Natal e Macaíba é através da BR-101. Para quem vem de Recife ou João Pessoa: no trevo de viadutos que dá acesso a Natal, basta tomar o caminho à esquerda (como quem vai para Fortaleza), em vez de tomar a direita (caminho que leva para o aeroporto e daí para Natal). Para quem vem de Fortaleza: veículos vindos pela BR-101 passarão por Macaíba antes de chegar a Natal e antes de pegar o desvio para Recife.

Em tempos recentes, os Governos de Macaíba e do Rio Grande do Norte têm buscado, através de subsídios fiscais e facilidades para construção, instalar um pólo industrial naquele município (o que deixaria a capital Natal livre para se concentrar nos setores de comércio e, principalmente, serviços).
O pólo atraiu importantes empresas como Coteminas (tecidos), Plugtech (computadores), Sterbom (sorvetes), uma engarrafadora da Coca-Cola e outras (ver reportagem sobre o parque industrial de Macaíba).

Apesar da incipiente industrialização, Macaíba é ainda um município pobre.
Por isso, causou a princípio certa surpresa que Macaíba tenha sido escolhida, em 2005, para sediar o Instituto Internacional de Neurociência, uma das instituições mais respeitadas do mundo nesse setor cientifíco de ponta.
Em entrevistas, o mentor do instituto, Miguel Nicolelis (uma das maiores autoridades mundiais em neurociência e um dos cientistas mais respeitados do mundo) explicou que um dos seus objetivos era justamente fazer com que os avanços da ciência se aproximassem da população carente.
Nicolelis firmou apoios com Governos e instituições privadas a fim de construir uma infra-estrutura que englobasse educação e saúde (para beneficiar a população de Macaíba e Natal) e pesquisa avançada (para avançar na fronteira do conhecimento na Neurociência). Apesar dos percalços, o Instituto parece estar avançando de forma satisfatória.
Abaixo, trechos de reportagem publicada em 2009 no jornal Tribuna do Norte sobre o Instituto de Neurociência (ver íntegra aqui):

"O ano de 2005 entrou para a história da ciência brasileira e mundial, após a inauguração do Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra (IINN-ELS). A ideia dos cientistas Miguel Nicolelis, Sidarta Ribeiro e Cláudio Mello, era criar um centro de referência para os estudos da neurociência em seu país de origem, fora do eixo Sul-Sudeste e que usasse a ciência como agente de transformação social de comunidades da Região Nordeste.

Quatro anos depois, o diretor do IINN-ELS, Sidarta Ribeiro, afirma que a missão proposta está sendo cumprida. "Fazemos uma avaliação positiva do nosso trabalho. Muito difícil, mas gratificante. A gente veio para ficar e quem não acreditava, agora está acreditando", diz Sidarta. O Instituto coloca o RN à frente de outros Estados quando se trata de pesquisa científica, uma disputa salutar, que diminui o regionalismo, aproximando o Nordeste dos outros centros de pesquisa do país.

Hoje o IINN-ELS conta com três unidades de pesquisa e laboratório: o Centro de Estudo e Pesquisas Prof. César Timo-Iaria, em Candelária, o Laboratório AASDAP/Hospital Sírio-Libanês e Centro de Pesquisa de Primatas, em Macaíba. E até 2010, o Campus Cérebro, também em Macaíba, deverá ser concluído. Um prédio com capacidade para cerca de 200 pesquisadores. Atualmente são 50 pesquisadores entre graduados e pós-graduados. Cada pesquisador tem o seu projeto, que está dentro das três principais linhas de pesquisa: Parkinson, Sono e Memória e Biocompatibilidade de eletrodos na comunicação vocal em sagüis.

Segundo Sidarta, os projetos estão bem adiantados, um exemplo é a linha que busca um tratamento para o mal de Parkinson, cujos testes realizados em ratos trouxeram esperança para quem sofre com a doença. Tanto que recentemente recebeu destaque na imprensa nacional e internacional."
SITE DO INSTITUTO http://www.natalneuroscience.com/

Construindo o arquipélago do conhecimento

Nota dos editores: O artigo “A ciência na construção do futuro”, de Christine Soares, publicado na edição de março de 2008 da Scientific American Brasil, descreve um projeto liderado pelo neurocientista Miguel Nicolelis para utilizar a ciência como um agente de transformação sócio-econômica no Brasil.

Neste ensaio, Nicolelis explica as origens de sua idéia e como o projeto poderia ser estendido a outros países.

Construindo o arquipélago do conhecimento
A globalização de um modelo de desenvolvimento
O ensaio está disponível neste endereço:
http://www.uol.com.br/sciam/reportagens/
construindo_o_arquipelago_do_conhecimento.html
Nicolellis criou há cerca de 2 anos um centro de pesquisas e também uma escola regular para as crianças de Macaíba, onde elas aprendem ciência no mais alto nível.
Rio Grande do Norte, na pobre cidade de Macaíba, em que terço dos habitantes são analfabetos e 40% das crianças são classificadas como indigentes pelo IBGE.

neurocientista Miguel Ângelo


10 de junho de 2009
Conferência com Miguel Nicolelis emociona o público
Miguel Nicolelis - um dos maiores cientistas da atualidade

Como é possível utilizar a ciência como agente de transformação social? Na conferência realizada no dia 09 de junho (2009) no Teatro Tuca, São Paulo, em comemoração aos sete anos da revista Scientific American Brasil, o neurocientista Miguel Nicolelis deu uma aula de como cientistas brasileiros, radicados no exterior, podem contribuir para o desenvolvimento econômico e sociocultural de seu país natal.

Além de dissertar sobre os avanços e descobertas da ciência, mostrando exemplos de experimentos realizados com primatas e camundongos, ao longo de sua experiência como professor titular de neurobiologia e co-diretor do Centro de Neuroengenharia da Duke University, nos Estados Unidos, Nicolelis conseguiu emocionar as mais de 600 pessoas presentes com a apresentação de um documentário que mostra o trabalho realizado pelo Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), do qual ele é idealizador e diretor.

Localizado no estado do Rio Grande do Norte, o IINN-ELS contribui para o processo de minimização das desigualdades sociais e econômicas entre as diferentes regiões do país, descentralizando a produção e a disseminação do conhecimento, e tornando a educação científica qualificada acessível à crianças e jovens do ensino público da região.

Em atividade desde 2003, o IINN-ELS integra atualmente dois centros de pesquisas em neurociências (Natal e Macaíba – RN); uma escola de educação científica, com duas unidades (Natal e Macaíba), para 1000 crianças e jovens de 11 a 17 anos de escolas públicas da região; e um Centro de Saúde voltado aos cuidados materno-infantis em Macaíba.

Nas palavras do editor da revista Ulisses Capozzoli "não haveria melhor forma de se comemorar o aniversário de Scientific American Brasil".